papel em branco

Incerteza. Mas só de escrever, já começo a combater a sua causa.
Agora, o que entra em ação é o desafio da atenção dedicada.

O papel em branco avança firme com sua estocada de desinteresse. É super efetivo!

Assisto um vídeo que estava parado em outra aba, dou uma olhada em uma notificação e jogo conversa fora com uma senhorinha que compartilha uma informação sobre o seu dia: “não acredito que ela disse isso, mãe!”.

Atravessando esses difíceis obstáculos chego ao terceiro parágrafo, e acabo me afundando no texto. Agora, o papel em branco já não existe e é incapaz de exercer seu controle, mas é justamente do seu conteúdo que nasce um herdeiro.

Esse herdeiro nasce convencido, confuso e abusado. Diferente da opressão vazia do seu pai, esse me acompanha e provoca constantemente: “Faz assim… Será que está bom? Já vi melhores… ”. Discutimos feio. Alterei e apaguei muita coisa (não vou reconhecer o seu papel nisso!). A cada alteração seus comentários se tornam mais espaçados, parecem mais maduros. Acho que finalmente concordamos.

O sexto parágrafo escrevi inteiro sem os seus palpites.

Mas e agora? Acho que cheguei no ponto em que já quero começar a encerrar o texto, mas seria legal saber o que meu parceiro acha disso… né?

Oi?! Está aí? E então… Acha que está legal? Precisava da sua ajuda com o encerramento…

Hmm. Ele realmente não vai responder. 
Será que reescrever tudo resolve? Ou só preciso da opinião de outro? Talvez negar a opinião por completo resolva… Não sei.


Ah… Entendi.
O herdeiro cresceu. 
Tal pai, tal filho.